Bairro Latino Que mãos aquelas encrespadas como as teclas do velho piano Batucando o fox rápido – trágico O encanecido pianista me encantou Parecia algo irreal perto de toda a fumaça Dentro do bar penumbrava Aqueles corpos tortos se contorcendo Piões de cordões longos Ancas de anjos castos Rechonchudos por dentro dos vestidos Finos, domingueiros Que mãos aquelas encrespadas nos cabelos negros da deusa da noite fazendo contorno pelos corpos de cobras A música agora desce a ladeira tropeça no merengue lépido e confuso Fora o silêncio da velha dormitativa A rua é lavada O homem lava a rua para pisar lajes limpas O que lava não vê o bêbado que passa e espreita solene no fim da picada Madri 30.06.1974 | Barulho Barulho de pedras rangendo moinho no vento uivando como a dor que secou de repente um só secar de terra espremida Barulho de formigas andando na tortuosa trilha que caminha junto às cercas farpadas junto das linhas e das matas Barulho de pó no cimento mexendo a construção acabada desgastada pelo tempo perdido envelhecida pelos anos dormidos Barulho de sinos tocando no candelabro a vela ilumina o fim das estrelas perdidas o início da glória e da vida Barulho de bomba detonada destruindo na velha muralha a tradição de um mundo enganado o fim da vida, do fato. 15.10.1970 | Carpir A gente chega de todos as partes São dores dispersas dentro da alma reabrindo a esquina de podres lajes quando vem a morte de quem se gosta longe das sombras de casa perto do frio de sempre Se foi outra vez sangrando o interior que de longe não se consola foi, outra vez, encontrar os mortos. Eu fiquei menino tonto de tantas coisas Fiquei sapateando no mundo No fundo a dor piscando em pedaços – entre cacos Foi outra parte minha que se despedaçou Um imenso instante perdido na lama O escuro tomou conta da minha rua A morte assombrou outra vez Madri 07.11.73 |
Cordilheira Tudo acaba na cordilheira Um sofrer danado despencou de lá Era o início do tempo, do ar ciumento O negar do carinho à alma marcada Todo azul caiu na cordilheira Só ficou o louro macio dos cabelos A carne da boca gulosa Foi assim numa só avalanche de amor O sol se pôs na cordilheira Lá bem dentro do meu corpo magro Bem dentro fez sua morada de escuridão Nada ficou além de um raio vermelho Agora eu durmo encolhido de egoísmo Debaixo de mil cobertores falsos Eu durmo pensando no abismo Acordo com a lua brotando na cordilheira. | Fio A vida por um fio É um fio de mentira A vida de brincadeira Morre a morte certeira O céu é terraço mudo O mundo é mundo Agente é gente A vida de equilibrista No fio bambo de frio Na tarde morta de medo Paredes lisas e caiadas Muros de estação de trem No marrom do subúrbio A noite pela janela Os ganchos estreitos e sujos A morte mais certa da vida Madri 26.03.1974 | Sonhos Tímidos Um grifo, um nicho, uma pêra No alto do armário de tinta azul No ar um cheiro asseado de cera Que faz brilhar a luz do tudo e do nada Os sentidos estão ligados para as estradas As estradas desnudas que envolvem o mundo Que envolvem seres de água e isopor As estradas ondulantes da minha alma pálida A solidão me acompanha à mesa Senta-se comigo e pede uma cerveja De longe explodem de inveja as mariposas Explodem em um louco bailado de luz Andei pelas ruas como sonâmbulo Vi os homens cantando, bebendo, falando Como tantas vezes eu cantei, bebi e falei Só que agora estou só com meus passos tímidos. |
Poemas Antigos
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By: JuGifs
ESSE GANHEI DA MARCIA .. OBRIGADA AMIGA!!!
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×÷·.·´¯`·)»JuGifs«(·´¯`·.·÷×
Obrigada pelo Comentário!
Logo vou responder .. Bjs a todos!
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